9 de jul. de 2008

Activision: a primeira e a melhor

Que tal essa seleção de jogos: H.E.R.O., Pitfall!, River Raid, Enduro, Keystone Kapers, Seaquest, Megamania e Frostbite? Não há dúvida que eles estão na lista dos melhores jogos de qualquer aficcionado por Atari 2600. Mas eles têm mais uma coisa em comum: foram todos produzidos pela primeira e melhor produtora independente de jogos: a Activision!

Junte quatro excelentes engenheiros descontentes mais um administrador com ótimo faro de negócios e o resultado não será outro: uma empresa inovadora e de ponta.

A Atari, em mais um de seus inúmeros erros, não tinha o hábito de creditar publicamente os desenvolvedores de seus jogos. E tratava-se de uma época em que bastava um engenheiro para desenvolver um jogo. Naturalmente, uma relação de paternalismo entre projetista e projeto surgia. O não reconhecimento público dessa relação, aliada ao sucesso de mercado dos jogos, criou muita insatisfação entre os engenheiros da Atari.

Em 1979, os engenheiros David Crane, Bob Withehead, Larry Kaplan e Alan Miller, em conjunto com Jim Levy, um ex-executivo do meio musical, fundaram a Activision, a primeira produtora independente de software para videogames. Pioneirismo e excelência.

Pioneira porque quebrava o paradgima de que toda a empresa do mercado de VGs deveria criar o próprio console e escrever os jogos exclusivamente para ele.

Excelente porque a qualidade de seus jogos elevou o patamar da indústria vigente. Era inacreditável que Combat e River Raid, por exemplo, pudessem ser jogos de um mesmo videogame, tamanho o abismo de qualidade técnica, visual, sonora que apresentavam.

É claro que a novidade --e a inesperada concorrência-- atiçou a fúria jurídica da Atari, que não tardou em processar a Activision, tentando impedí-la de produzir jogos para os seus consoles. E perdeu, para a satisfação de jogadores no mundo todo.

A Activision também é a mais longeva produtora independente da história. Entre altos e baixos, fusões e aquisições, mudanças de público-alvo e nome, continua aí até hoje como a maior empresa dos Estados Unidos no segmento. Tony Hawks e Guitar Heros que o digam...

Enquanto isso, no Brasil...

No Brasil, a Gradivox, ops!, a Polyente, enfim, a Gradiente usando sua marca Polyvox conseguiu causar uma confusão tão danada que consolidou, no mercado nacional, a imagem que Atari e Activision eram a mesma empresa!

Era a época da Lei de Reserva de Mercado de Informática, onde os gênios legisladores esperavam "desenvolver" nossa indústria, permitindo e incentivando a importação de "peças", mas restringindo a importação de "produtos acabados".

O que é "peça"? Pode ser um componente, como um resistor ou um diodo, mas também pode ser uma placa com alguns componentes. A Polyente aproveitou essa brecha para fechar contratos de distribuição oficiais tanto para os produtos Atari e quanto para os Activision. Trazia as placas com todos os componentes devidamente soldados e, no caso de cartuchos, com a ROM devidamente gravada, além das partes externas plásticas. Depois tratava de "montar" o produto: um parafusinho lá, outro aqui, uma etiqueta e caixa nele, para delírio dos defensores da indústria nacional.

E aí começa toda a confusão: os cases dos cartuchos Atari e Activision eram bem diferentes um do outro, porém as placas se acomodavam em qualquer case. E dá-lhe Pac-Man com case Activision e Enduro com case Atari.

Para completar, os labels eram impressos por aqui mesmo. A Gradivox optou por adotar o padrão silver da Atari para seus cartuchos e, sabe-se lá por que, estendeu esse padrão para os cartuchos da Activision! Por isso Megamania, H.E.R.O., Keystone Kapers e tantos outros clássicos Activision eram vendidos sob o mesmo padrão "Cartucho Original" dos jogos Atari e vistos como uma coisa só.

Houve um jogo que, inicialmente, era exceção: Pitfall! vinha acompanhado do label original americano --ainda que colado de ponta-cabeça! Mas a normalidade pára por aí: a Polyente escolheu esse jogo para acompanhar os consoles de Atari 2600 vendidos no final de 1984! Este blogueiro mesmo teve um: vinha com o manual original em inglês.

3 de jul. de 2008

Jogos desconhecidos: Crystal Castles

Nem só de Pitfall!, HERO, Enduro e River Raid viveu o Atari 2600. No Brasil, dezenas de jogos criados nos EUA nem sequer apareceram por aqui, principalmente os mais recentes e mais caros (leia-se acima de 4Kb) de copiar.

Muitos desses jogos ficaram conhecidos somente após o advento dos emuladores e da proliferação de conteúdo de Atari 2600 na internet. E o Crystal Castles enquadra-se muito bem nesse grupo de jogos.

Crystal Castles: mais uma conversão do arcade.

Em 1984, no Estados Unidos, os videogames ainda eram medidos em relação aos arcades. Quanto mais próximo da experiência de um arcade o VG pudesse chegar, melhor ele era considerado.

A política de produção de jogos da Atari, às vésperas do crash, era emblemática: nada além de conversões dos seus próprios jogos de arcade era desenvolvido para o 2600 e 5200.

Crystal Castles era mais uma dessas tantas conversões. A versão arcade, de 1983, foi convertida para o 2600 em 1984. Dadas as limitações do 2600, até que o serviço foi bem feito.

O jogo consiste em controlar um ursinho extremamente gay --no arcade ele usa botinhas vermelhas!-- por uma série de labirintos (salões de castelos) mostrados em perspectiva isométrica, colecionando pedras e evitando os inimigos, seja evitando rota de colisão, seja pulando. A versão do Atari 2600 engloba oito fases distintas, bons gráficos, ótimos efeitos sonoros e um controle horroroso --tente pegar as pedras e saberá do que eu estou falando.

Essa foi, provavelmente, uma tentativa da Atari de marcar presença no mesmo segmento de público em que o jogo Frogger fazia sucesso: meninas.

(revisão sugerida pelo grande amigo guitarrista) Cartuchos nacionais de Crystal Castles são praticamente impossíveis de serem encontrados, se é que chegaram a ser fabricados no Brasil. Este é mais um dos muitos jogos Atari que a Polyvox não trouxe oficialmente dos EUA. A versão americana não apresenta tantas dificuldades de aquisição, porém é bem valorizada.